Doce Inverno

Olhando pela janela lá fora o inverno jazia entre as folhas mortas, a chuva caia fininha como se fossem lágrimas dos anjos, o vento bailava por entre as árvores secas, poderia se ouvir o canto choroso de algum lobo faminto ou solitário na floresta. Tudo estava perfeitamente normal assim eu achava, vestindo meu branco vestido de cetim com linhas fininhas de ouro um colar de perolas ofuscava em mim, minha pele pálida e meus olhos que outrora foram vividos alegres e felizes hoje são a sombra da angustia, do medo do rancor da raiva e do orgulho fugaz que tenho. Procuro por minha caderneta vermelha com minhas anotações começo a pensar nos meus sonhos deixados para trás e começo a escrever do meu monótono dia, depois volto para janela observo um carro parado na sinuosa Rua de Greenville interior da França, onde eu tinha nascido, e morrido. Sim eu tinha morrido nesta cidade há muito tempo atrás minha alma escureceu-se do ódio do rancor. Muito tempo atrás quando eu ainda contava com o esplendor de minha beleza, aos 21 anos quando conheci Ulisses um jovem alto loiro, brilhante de olhos azuis foi quando meu terror também começou. Ulisses era sempre misterioso nunca falava de si nos encontros que teve, eu pobre acreditava em suas juras de amor. São recordações penso eu balançando a cabeça fortemente para espantar não quero mais lembrar ele do mal que ele fez em mim das cicatrizes profundas abertas em meu coração. Não devo pensar que é somente culpa dele. Sim, pois eu o deixei me ferir.

Ouço minha pequena gata miar perto de minhas pernas. Enroscando-se pedindo um pouco de carinho seu miado é delicioso de se ouvir. Petry se chama ela, bonito nome não acha?

-Não acho nada. Disse minha mente. 
Estou enlouquecendo.

Com quem eu poderia conversar, não há ninguém nesta maldita casa enorme, não há nada nesta cidade.

Eu estou só não estou Petry?

Ela só miava.

Por Camila Michele